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terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Morre Kaká di Polly, ícone da comunidade LGBTI+ brasileira

Em Neon: terça-feira, 24 de janeiro de 2023


Por: Eduardo Moraes

Morreu em São Paulo, no dia 23 de janeiro de 2023, Kaká Di Polly, ícone Drag Queen, após uma parada cardíaca durante um exame de rotina. 

Kaká foi e continuará sendo uma personagem inesquecível, cheia de histórias, casos e polêmicas que um filme seria pouco para contá-las, quem sabe uma série, mas com muitas temporadas, para ilustrar seus 63 anos de vida e, segundo ela mesma, 50 anos de carreira drag, sim, pois já se "montava desde novinha".


Um fato que tornou Kaká uma personagem fixa na história LGBTQIA+ brasileira foi o de fingir um desmaio na Avenida Paulista, em 1997, possibilitando assim acontecer a 1ª Parada Gay de São Paulo (nome na época), pois sua simulação desviou os olhares da polícia, que até então impedia a caminhada pela avenida e com essa brecha, com os policiais indo em socorro à Kaka, a marcha seguiu seu rumo, marcando aí um acontecimento histórico do movimento LGBTQIA+.


Kaká, a personagem criada por Carlinhos (somente para a família e para os muito íntimos), não nasceu para passar despercebida. Era um rapaz alto, obeso, afeminado e estrábico. Como não ser notado? Então Kaká di Polly nasceu e veio para se destacar."Já que nasci pra causar, então vou causar muuuuuito", dizia aos amigos.

Onde Kaká chegava era notada. Para ajudar no "afronte", perucas enormes, roupas cravejadas de strass, joias enormes e chamativas. Kaká era um evento chegando a um evento, roubava a cena. Roubava os holofotes. Fotógrafos se acotovelavam para a melhor foto da celebridade.


Polêmica, temida, amada, odiada, mas ninguém ficava indiferente à ela. Cada pessoa tinha uma impressão, uma história, uma raiva, uma risada, um gesto de carinho... Ah! Isso mesmo. Dentro dessa criatura imensa tinha um coração maior ainda. Para ajudar alguém, Kaká não media esforços, passava por cima do que fosse, até conseguir. E conseguia. Na força, na raça, no respeito ou no amor. Mas conseguia.


Pervertida, assanhada, louca por um bofe, viveu grandes amores. Se gabava de dizer que teve nem sei quantos casamentos, "eu perdi a conta", gargalhava.

Uma festa sem Kaká era sem graça, pois o gostoso era aguardar "como Kaká iria chegar" e como sempre era brilhante, era brilhosa de joias, era notável.


Kaká e Carlinhos entraram na minha vida e foi pra ficar. Juntos fizemos um jornal, o ATITUDE e a campanha PAZ, AMOR E CAMISINHA, com vários artistas da noite, artistas de TV, pessoas comuns, todos mostrando-se "ABSOLUTAMENTE CONSCIENTES", pelo amor e pela paz, numa época em que muitas brigas e ódios estavam acontecendo e pela importância do uso do preservativo para evitar doenças sexualmente transmissíveis. Comigo (como fotógrafo) a tiracolo ia para todos os lugares e queria fotos, muitas fotos. Queria ser o centro das atenções, e é claro que conseguia. Na segunda, após a notícia de sua morte, muita gente postou homenagens para Kaká, eu via que alguns usavam fotos que eu tirei dela e eu me enchia de orgulho, com a sensação do dever cumprido. Pois eu sempre procurava seu melhor ângulo, sua melhor "linguada". Sim (risos), Kaká sempre colocava a língua pra fora na hora da foto. Por quê? Dizia que disfarçava o estrabismo.


Antes de eu me mudar para o Rio de Janeiro, éramos unha e carne, saíamos direto juntos. Kaká fazia questão de me deixar em casa. Quando minha mãe faleceu foi em seu colo que encontrei consolo, onde chorei e de onde recebi palavras certas e carinhosas, que me colocaram de pé novamente. Aí nossos laços ficaram ainda mais fortes. Já frequentava aniversários da família, passamos Natal juntos, Ano Novo... Como ela dizia: "São poucos que sabem, podem entrar e sair da minha casa e você é um deles".

Enfim, poderia ficar horas e horas escrevendo e falando dessa pessoa maravilhosa.


Peço desculpas e licença, por não fazer uma matéria apenas informativa e sim algo mais como uma crônica, mas acho que eu precisava disso por mim, porém ainda mais por ele/ela. Pois a comunidade LGBTQIA+ perdeu um ícone, uma lenda, e eu, além disso, perdi um grande amigo.

Vá em paz Carlinhos. Sua família te amou muito, teus amigos também.

Kaká a sua história, sua trajetória foi linda e não vai parar por aqui. 

Se um dia olharmos pro céu e vermos algo querendo roubar a cena sendo maior e mais brilhante que a lua, saberemos que é você aprontando das suas. #KakaVive

 
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