O texto mostra a dificuldade de Zé em encontrar trabalho, o que torna a relação com Nina, sua esposa, cada vez mais complicada. Nessa situação de penúria, ele revela um lado que ela antes não conhecia. Em tempos de recessão e desemprego a atualidade da peça de Plínio Marcos (escrita em 1967) é o que mais assusta.
“Quando as Máquinas Param” já teve Tony Ramos, Luiz Gustavo e Marcos Paulo, nos papeis masculinos, Walderez de Barros, Yara Amaral e Miriam Mehler, nos papeis femininos, em montagens dirigidas por Nelson Xavier, Jonas Bloch e também pelo autor, Plinio Marcos. Esta nova montagem inaugura um novo espaço no teatro Aliança Francesa: a Sala Atelier.
Sobre o autor e a peça - Por Oswaldo Mendes
História de amor em um tempo mau
Há quem diga que o Teatro não muda o mundo. Nada mais falso. A Arte, assim com maiúscula, transforma as pessoas e a sociedade. Seria cansativo enumerar exemplos. Pensar no tema no momento em que um Museu se transformou em cinzas tem um efeito dramático e por vezes desolador, como lição a ser aprendida. Mas voltemos ao nosso cotidiano e a essa Arte tão frágil que é o Teatro. Uma Arte que fala diretamente ao seu tempo. Por isso efêmera, por isso condenada a nascer e a renascer a cada instante, enquanto fenômeno cênico. Enquanto literatura, eventualmente um texto teatral pode sobreviver ao tempo pela força da sua poesia e do seu mergulho na alma humana. É preciso lembrar o óbvio para entender o destino do dramaturgo que, ao contrário do poeta, fala com os seus contemporâneos para ser ouvido de imediato. Enfim, o dramaturgo tem urgência. Foi essa urgência que transformou o Palhaço Frajola das quebradas de Santos em autor de Teatro, no final dos anos de 1950. Ao ler sobre um garoto, currado na cela de uma cadeia pública, que ao sair vingou-se de cada um dos seus estupradores, o Bobo Plin escreveu, num impulso, sua primeira peça, “Barrela”. Ele que já sabia alguns segredos do palco, como palhaço de circo e ator de espetáculos infantis e amadores, dominou logo a escrita teatral, ao ponto de Patrícia Galvão, a Pagu dos modernistas, surpreender-se com o fato de um analfabeto escrever uma peça tão boa e forte. Analfabeto ele não era, mas essa é outra história.
Já em São Paulo, no início dos anos de 1960, Plínio Marcos não deixou de ser, como ele mesmo se apresentava, “repórter de um tempo mau”. E foi assim que deu voz e tornou visíveis personagens até então ausentes dos palcos. Fossem eles dois perdidos numa noite suja ou habitantes de um quarto infecto de uma pensão dos becos esquecidos do bom Deus. Personagens que invadiram os palcos com um ímpeto avassalador. Logo algumas vozes, do próprio teatro, começaram a duvidar da legitimidade revolucionária e transformadora desses personagens, incapazes de mudar a própria vida e muito menos a vida da sociedade. É quando Plínio Marcos nos apresenta Nina e Zé, jovem casal de uma vila operária na periferia. Poderia ser apenas mais uma história de amor de dois jovens com sonhos de Romeu e Julieta. Sonhos modestos de uma novela de rádio ou de um time de futebol. Mas Plínio nos mostra o que acontece quando as máquinas param para José e ele vai para o olho da rua. De repente, a modesta felicidade sonhada não resiste à brutalidade do desemprego e à incerteza do amanhã.
De novo Plínio Marcos foge do padrão de crítica política e sociológica do teatro daqueles tempos. Ele não é maniqueísta, não aponta um inimigo que encarne o mal absoluto. Como uma metralhadora giratória, ele vai tocando em todos os pontos vulneráveis da ferida social. São tempos maus. Lá estão os meninos no futebol de rua, despreparados como Zé para enfrentar a vida e o trabalho. Lá está o jovem sem profissão. Lá está a mulher, arrimo de família, sustentando o duro cotidiano da casa. Lá está o sindicato que não se preocupa com os desempregados, mas com a mesa de pingue-pongue. Lá está o trabalhador que explora o próprio trabalhador. Lá está o orgulho do náufrago que recusa a mão que o quer salvar. Lá está Zé, para quem a vida se resume a Nina e ao Corinthians, e que ao contrário do herói da radionovela não pode se alistar na Legião Estrangeira e fugir da infelicidade. Lá está Nina, a mulher sozinha com a sua decisão de ter o filho que espera, custe o que custar. E o preço é alto, Nina. E o preço é alto, Zé.
Mais uma vez, como Brecht, Plínio Marcos faz ruir à nossa frente uma história de amor e deixa no ar a pergunta – quem fez isso a eles? Plinio não responde. Não cabe a ele responder. Ele é apenas o poeta que nos pega pela mão e leva até seus personagens para que não nos esqueçamos deles. E de nós mesmos. E então o Teatro abre nossos olhos, toca nossa sensibilidade, desperta nossa humanidade. Talvez, sim, o Teatro possa mudar o mundo. Há urgência. Tomara um dia não mais existam Nina e Zé, como os dois perdidos numa noite suja, senão como personagens de uma reportagem de um tempo mau e distante. Por enquanto, porém, eles ainda pedem pelo nosso olhar.
Oswaldo Mendes, ator e dramaturgo, é autor de “Bendito Maldito – Uma biografia de Plínio Marcos
(Editora Leya, 2009).
Serviço
“Quando as Máquinas Param”
De Plínio Marcos
Supervisão Artística: Oswaldo Mendes
Direção: Augusto Zacchi
Elenco: Carol Cashie e Cesar Baccan
Temporada: de 12 de outubro a 2 de dezembro
Sessões às sextas e sábados às 21h e domingos, às 19h30.
Recomendação: 12 anos
Duração: 60 min
Capacidade: 40 lugares
Ingressos:
R$ 30 / R$15 (meia)
Vendas on-line / mobile: www.ingressorapido.com.br
Bilheteria: aberta somente em dias de espetáculo, 2h antes do início das apresentações.
Local: Teatro Aliança Francesa – SALA ATELIER
Endereço: Rua General Jardim, 182, Vila Buarque, próx. Metrô Republica
Telefone: 11 – 3572. 2379
www.teatroaliancafrancesa.com.br
Ficha técnica
Autor: Plínio Marcos
Supervisão Artística: Oswaldo Mendes
Direção: Augusto Zacchi
Elenco: Carol Cashie e Cesar Baccan
Trilha Sonora: Marcelo Ullmann
Figurino e Cenário: Marcela Donato
Iluminação: Nelson Ferreira
Fotos: Ronaldo Gutierrez
Midias Sociais: Gigi Prade
Designer Gráfico: Rafael Oliveira
Assessoria de imprensa: Flavia Fusco Comunicação
Produção Geral e Realização: Baccan Produções
Augusto Zacchi – Diretor do espetáculo
Formado pela Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) e estreou no teatro em 1999 no espetáculo Um Homem Chamado Shakespeare, com texto e a direção de Bárbara Heliodora. Em 2000, foi indicado ao prêmio de melhor ator por conta do trabalho em Fausto Gastrônomo, de Richard Scheschner, direção de Luis Furlanetto. Atuou e produziu peças premiadas como Trainspotting, Laranja Mecânica, Indecência Clamorosa os três julgamentos de Oscar Wilde e Bent. Atuou também na peça Mente Mentira, produzida por Malvino Salvador e dirigida por Paulo de Moraes. Com o Grupo TAPA, atuou em "Gata Em Telhado de Zinco Quente", A Moratória e Senhorita Júlia, dirigidas por Eduardo Tolentino de Araújo. No cinema, atuou nos filme Foliar Brasil, Olga , Era uma vez... e Mentiras Sinceras. Na televisão, atuou em Malhação, Lara com Z, O Outro Lado do Paraíso, na Globo, e Luz do Sol, Poder Paralelo, Máscaras, Apocalipse e na minissérie José do Egito, na Rede Record.
Carol Cashie – Elenco
Tem em sua bagagem dezessete espetáculos: Anti-Nelson Rodrigues de Nelson Rodrigues, direção Eduardo Tolentino de Araújo, Grupo TAPA; As Viúvas de Artur Azevedo, direção Sandra Corvelone, Grupo TAPA; Dorotéia de Nelson Rodrigues, direção Brian Penido Dutt Ross, Grupo Das Dores de Teatro e apoio do Grupo TAPA; Vestir Os Nus de Luiggi Pirandello, direção Eduardo Tolentino de Araújo, Grupo TAPA; Pedreira das Almas de Jorge Andrade, direção Brian Penido Dutt Ross, Grupo Das Dores de Teatro e apoio do Grupo TAPA, entre outros. Formada pela Universidade São Judas Tadeu, Estudo do Corpo baseado no Klaus Vianna com Neide Neves; Expressão, Corpo e Dança com Marize Piva; Treinamento Vocal e Estudo da Palavra Falada com Isabel Setti; Canto e Técnica Vocal com Wilson Gava; Maquiagem com Marcelo Deny; Dança Contemporânea e Poesia com Luciana Bortolloto; Técnicas de Interpretação para Cinema e TV no Studio Fátima Toledo, entre outros.
Cesar Baccan – Elenco
Atuou em mais de quinze espetáculos no teatro, entre eles, com o GRUPO TAPA e direção de Eduardo Tolentino, em Esplêndidos, de Jean Genet, Doze Homens e Uma Sentença, de Reginald Rose, A Mandrágora, de Nicolau Maquiavel, Anti-Nelson Rodrigues, de Nelson Rodrigues, De Um ou De Nenhum, de Luigi Pirandello. Já em outros projetos, Eu Te Amo Meu Brasil, texto e direção de Atílio Bari, As três irmãs, de Anton Tchekhov, direção Pedro Garrafa, Pedreira das Almas, de Jorge Andrade, direção de Brian Penido Ross, O Homem que Calculava, de Malba Tahan, direção Atilo Bari, 2010, Pigs Os três porquinhos, texto e direção de Atílio Bari, Histórias que o Vento Contou Orquestra Filarmônica Infanto Juvenil de São Paulo, A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, direção Rick Von Dentz, O Tesouro do Pirata Pão Duro, texto e direção de Atílio Bari, O Estranho Caminho de Santiago, texto e direção de Paulo Trevisan, Tristezas Americanas, de Tennessee Williams e direção de Alexandre Biondi.