Num cinema em Botafogo lotado, eu assistia “Elena”, de Andrey Zvyagintsev quando, prestes a acabar, a personagem título caminhou até uma janela e, aí... A tela se apagou.
A luz geral se acendeu e todos se entreolharam sem entender. Um senhor disse: “Acabou”.
Com aquela declaração e, apesar da dúvida, aplausos ecoaram. O público acanhado foi se levantando e deixando o recinto, alguns comentando e até elogiando o tão inesperado final. Mas uma senhora de vermelho, funcionária da sala, interpelou para avisar sobre a falha: “Quem tiver paciência, que espere. Vamos regularizar e passaremos o restante do filme”.
Metade aceitou. Eu, inclusive. E voltamos aos nossos assentos. Lembrei-me de outra feita, quando, num cinema do bairro de Santa Teresa, o projetor em pane atrasou o início de uma comédia brasileira, que eu nem estava tão animado para assistir. Enquanto o técnico cuidava dos reparos, uma simpática mocinha veio e sorteou pães e docinhos caseiros para nos entreter.
Não ganhei um pãozinho sequer. Mas aquilo foi bem mais divertido que o próprio filme.
No cinema de Botafogo, naquela espera por Elena, escutei outro homem se queixar de que já estávamos ali esperando há mais de dez minutos e nada. A galera foi se irritando e começou a bater palmas, a assobiar, a reclamar. Nada. Nada acontecia. Nem aconteceria, deduzimos. Algumas suposições, piadas foram inventadas sobre o que Elena poderia fazer ou ver através da janela. Por fim, inconformados, decidimos evacuar o recinto. Eu já atravessava o saguão com alguns, quando alguém gritou que as luzes haviam se apagado de novo.
“Consertaram! Vão passar!”
Corremos depressa para dentro, eu me sentindo um retardado.
A tela se iluminou. E o que vimos foi o minuto e meio que faltava do final daquela película: Elena se aproximando da janela para olhar e... Vieram as legendas de encerramento.
Fora isso, nada, nada, nadica de nada mais aconteceu.
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Foto: Divulgação
Por: Beto Caratori - CLIQUE AQUI e confira outras crônicas de Beto Caratori
Beto Caratori, escritor, jornalista, compositor e cantor, que atuou no movimento musical que revitalizou a cultura no bairro carioca da Lapa.