Outro dia, enquanto me preparava para sair, senti vontade de pintar os olhos, e então comecei uma das tantas problematizações que lanço a mim mesmo durante o dia.
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Você pode virar pra mim e falar: Que bobagem! Se sente vontade de pintar os olhos, pinte e seja feliz!
Quem me dera que as coisas fossem tão tranquilas assim!
A quebrada não é aquele point de pessoas descoladas e com mente aberta que você costuma colar não!
Proponho que você saia da redoma de vidro, da sua zona de conforto e problematize comigo!
Na quebrada, não rolam muitos eventos convidativos para nós gays. Só quem é, manja. Logo, buscamos lugares onde possamos circular entre nossos semelhantes. Esses lugares, normalmente estão localizados na região central da cidade. Então, para que haja este deslocamento, enfrento o transporte público.
E quando digo ENFRENTO o transporte público, é realmente assim como me sinto; em um confronto.
Os olhares tortos, risadas e comentários abafados pelo caos de São Paulo, são elementos presentes SEMPRE em minhas curtas ou longas viagens.
“Olha o cabelo dele…zoado!”
“Ó a bicha subindo.”
“Essa coca é fanta.”
“Olha que roupa ridícula!”
Esses são os comentários mais amáveis que costumo ouvir, é disso pra pior. Bem pior!
Por conta dessas ofensas rotineiras, lanço essas problematizações. Quando acaba o rolê, e os metrôs voltam a rodar, sou eu quem estou lá, enfrentando toda hostilidade dentro do transporte público. Quando meu rolê acaba, eu não pego meu carro que ganhei do meu pai e vou para o meu apê no centro não senhor!
As problematizações são mais frequentes ainda, com o bombardeamento de tantas notícias de pessoas que foram assassinadas todos os dias por conta da LGBTfobia.
“Ah, então o que você sugere? Que deixemos de lado nossa essência, tal essência que mesmo diz para preservarmos?” Não! A minha sugestão, é que possamos sim nos expressar da maneira que quisermos, desde que, com isso não corramos nenhum risco.
Na quebrada também têm gays, lésbicas, bi e trans, olhem para nós! Chega dessa elitização do movimento LGBT. Medidas precisam ser tomadas!
Por que o movimento não é tão atuante aqui, como no centro? Por que não podemos nos fortalecer na nossa comunidade?
A luta do movimento LGBT em São Paulo está bem centralizada. Um gay é agredido na região central e logo temos uma mobilização massiva. Agora na quebrada a história é bem diferente. Pra gente que é preto e gay na quebrada, o sofrimento é bem maior. Mas onde estão as ações do movimento por aqui?
Uni-vos bichas Nagô! Sigamos de mãos dadas rumo ao empoderamento. A revolução vai ser crespa e colorida.
Eu quero me sentir seguro, independente do lugar que eu vá.
À todas as irmãs e irmãos, força na caminhada!
Foto meramente ilustrativa do Karamo Brown para o "The Prancing Elites Project"
Por: Ezio Rosa
Ezio tem 20 anos é integrante do corpo de baile do Ilú Obá de Min - Educação, cultura e arte negra, é Membro cofundador do coletivo Ijó Lewá (https://www.facebook.com/ijolewa?fref=ts), cuja missão é disseminar a cultura-afro brasileira através da dança e da musicalidade na periferia. Autor do tumblr Bicha Nagô (http://bichanago.tumblr.com/), que traz a proposta de discutir homossexualidade com o forte recorte de raça e classe. Arte-educador no Projeto “Mais Educação”, atuando na zona leste de São Paulo, onde realiza atividades voltadas à valorização da cultura afro-brasileira e à problematização de gênero e lgbtfobia entre crianças de 8 a 12 anos de idade.