Quando nos vem à lembrança o Oriente Médio, sempre nos remetemos a um local hostil, com guerras e intolerância. Por isso mesmo, saber que a banda de indie pop, Mashrou 'Leila, que tem como líder um cara assumidamente gay e que canta letras que satirizam a sociedade libanesa e a política, faz sucesso, é algo que nos surpreende. Eles literalmente saem pela tangente da sociedade árabe e acertam em cheio no que há de mais democrático no pop árabe.
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Segundo o The Guardian, a banda foi formada em 2008, seu nome significa "o projeto noturno" - uma referência às jam sessions noturnas das quais a banda nasceu. O estilo do grupo é uma mistura de influências, desde a música indie rock - o Arctic Monkeys, The Strokes e Radiohead - à cantora libanesa Fairuz (algo como a Maria Callas do mundo árabe).
A franqueza de suas letras, cantadas pelo vocalista Hamed Sinno, com a corajosa decisão de falar sobre a sexualidade em uma região onde isto não é aceito, não tem precedentes. As letras falam de quase todos os imagináveis tabus da região árabe: amor homossexual, a vida dentro e fora do armário, sexo antes do casamento, as relações inter-religiosas além de protesto político e religioso, isso sem falar do uso de palavrões. A canção "Shim El Yasmine" ("Cheire o Jasmim"), que é sobre um relacionamento gay é cantada por Sinno como se ele estivesse dividido entre a dor e o prazer: "Eu teria gostado de manter você perto de mim / Apresentá-lo aos meus pais / você coroar meu coração / cozinhar seus alimentos, varrer sua casa / Mimar os seus filhos, ser sua dona de casa. "
Confira abaixo o vídeo da canção Shim El Yasmine ao vivo no Music Hall:
Atualmente a banda tem mais de 265 mil likes no Facebook, um grande feito para uma banda independente com praticamente nenhum apoio das empresas do Oriente Médio.
A banda faz parte de uma onda rebelde de novas bandas no Oriente Médio, como o El Morabba3 na Jordânia e Zeid do Líbano e os Wings. Todos eles surgiram em torno da época da primavera árabe, criando uma fusão potente de pop e política.
No início dos registros de Leila Mashrou ', você podia ouvir a voz de Sinno fortemente filtrada, como se a banda estivesse literalmente em um protesto, talvez até mesmo na Praça Tahrir, no Egito.
O tabu no Oriente Médio é enorme, não é permitida a educação sexual, o que faz ter uma ascensão do HIV, complicações decorrentes de abortos mal feitos e o silêncio de vítimas de estupro. Talvez por tanta "castração cultural", a ousadia da banda acabe por fazer novos fãs ávidos por liberdade, pessoas que querem se expressar, jovens cheios de adrenalina e carentes de manifestação. A banda vem crescendo cada dia mais e já é considerada um fenômeno, são vistos como articuladores do sentimento da juventude em Beirute. Eles são os maiores defensores dos direitos humanos e, especificamente, dos LGBT, no mundo árabe. Vida longa ao Mashrou 'Leila.
Fotos: Reprodução / Facebook da Banda / Frame Youtube / Olivier Hoffschir
A Redação