Nessa última semana, com dois feriados prolongados no Rio de Janeiro, percebi um fato curioso no meu Facebook. Toda hora era uma amiga ou um conhecido qualquer dizendo que estava fazendo uma faxina virtual, ou seja, deletando alguém da sua lista. Achei que era um grupo pequeno, isolado, descontentes com a postura de uma ou duas pessoas, mas as postagens foram se amontoando, crescendo e decidi parar pra analisar esse repentino fenômeno. Eu acompanhava, pra ver se sobreviveria à aquela chacina virtual, vai se saber quais eram os motivos da pessoa.
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O que faz uma pessoa decidir fazer uma faxina virtual? O que nos leva banir, deletar, bloquear uma pessoa de nosso convívio diário, de participar de nossas vitórias e derrotas? Não estou sendo radical, concordo que há momentos que precisamos fazer uma limpa de verdade nos contatos, eu mesma já fiz. Há muita gente sem noção, isso há.
Que motivos nos levam a exterminar alguém, virtualmente falando, claro!
• Estar anos por ali e nunca curtir nada seu e você precisa abrir espaço para novos e atuantes contatos.
• Só está ali para te investigar, fuxicar sua vida. E de gente invejosa e recalcada já chega as do mundo real.
• Pessoas que adoram brigas por política, programas de TV, jogos de futebol e sempre enviam comentários inconvenientes em alguma foto ou postagem sua ou te incluem em 25 grupos e te mandam mil convites para eventos.
• Pessoas que te convidam pra jogar. Quero estrangulá-las.
• Ou ainda você pode estar de saco cheio de homens ou mulheres inconvenientes. Daquele tipo que aproveita a falta de contato físico e a distância que a internet o proporciona para invadir sem piedade nossas entranhas e nos dar cantadas, enviar fotos impróprias, etc.
• E claro, ex namorado, ex sogra, ex cunhada, todos os ex deveriam nos levar a explodi-los virtualmente. Porque pra mim, se não serviu como namorado não serve nem pra estar na minha lista de amigos. Esses já nem precisavam estar por ali mais.
Por que homens não fazem faxinas em seus Facebooks? Fui perguntar a alguns amigos e todos me responderam: porque quanto mais contatos melhor, além do mais a gente não liga se olharem, fuxicarem ou mandarem uma foto intima.
Não estou aqui sendo machista, feminista, sexista, nada disso... Só estou analisando a realidade dos meus quase 2 mil contatos e das reclamações constantes de faxina virtual. O mundo está perdendo a noção de espaço alheio? De respeito ao próximo? Será que o fato de invadir nossas casas através da tela do computador dá o direito ao próximo de invadir nossas vidas reais? Há diferença entre vida real e vida virtual?
Eu mesma já fiz inúmeras faxinas virtuais, pelos motivos expostos e até por outros. Na época da eleição a faxina foi por divergência política e agressões verbais. Outros momentos alunos extremamente inconvenientes foram sumariamente excluídos, em outros namorados que viraram ex não tinham mais que partilhar minha vida. Eles não optaram sair dela? Por que acompanhá-la?
Pelo menos sobrevivi a todas as postagens de faxinas virtuais desse último feriado. Bem, eu nunca posto no mural dos outros o que não quero que postem no meu. Não convido ninguém pra jogar, já que odeio esses joguinhos de Facebook. Só convido para eventos ou grupos quando sei que é do interesse das pessoas e sei que elas gostarão. Não deixo recadinhos fofos pra amigos comprometidos, vai que a namorada pira e o obrigada a me excluir? Tento ser uma boa amiga virtual. Não sou?
Foto: Madonna para Dolce & Gabbana / Reprodução
Foto: Madonna para Dolce & Gabbana / Reprodução
Gika é professora, blogueira, escritora, roteirista, devoradora de chocolate amargo, livros da Martha Medeiros e filmes antigos. Graduada e Mestre em Letras pela UFRJ, divide seu tempo ministrando aulas de espanhol, na manutenção do seu blog “O Fantástico Mundo de Gika" e escrevendo muitas estórias. Trabalhou como assistente de Doc Comparato com quem fez seu primeiro curso de roteiro na AICTV. Estudou também com outras feras do roteiro Fausto Galvão, Ingrid Zavarezzi e Vitor de Oliveira. Recentemente fez um curso de escrita com o escritor policial Raphael Montes e sua vontade de escrever um romance veio a tona após o curso.