Lembro que eu, aos 14 anos de idade, tomei conhecimento de um filme que concorria ao Oscar em oito categorias e que falava de um Homem Elefante. Bom, eu sempre fui apaixonado pelo animal e então, achando se tratar de uma cruza entre um humano e o paquiderme, fui procurar saber mais sobre o filme e, obviamente, assisti-lo. Choquei. Além de me deslumbrar com a excelente obra dirigida por David Lynch, que trazia um elenco estelar de atores que eu sempre fui fã, como o incrível Anthony Hopkins, em mais um papel notável, John Hurt vivendo brilhantemente o personagem título e a excelente Anne Bancroft, com sua presença marcante e bela.
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A história do inglês Joseph Merrick (1862-1890), mexeu tanto comigo que foi meu material de estudos para a feira de ciências da escola onde eu estudava. Queria mostrar às pessoas a incrível história do homem que sofria de um caso grave de neurofibromatose múltipla, que deformara 90% de seu corpo e que, somente em 1996, após exames em seu esqueleto, foi diagnosticado como tendo a "Síndrome de Proteus". Mas o exame de DNA, em amostras de cabelo e ossos de Joseph, negou a síndrome e por isso não há uma prova definitiva de seu diagnóstico.
Enfim, os anos se passaram e eis que em conversa com meu amigo Wallace Lima, que é diretor de palco, soube que ele estaria na equipe técnica da peça escrita em 1977, por Bernard Pomerance, sobre Joseph Merrick, " O Homem Elefante". Enlouqueci só em pensar que teria novamente um contato com a história que mexera com a minha adolescência.
Em um sábado, prometendo chuva grossa, lá fomos, eu e meu companheiro, assistir ao espetáculo “O Homem Elefante” no Oi Futuro, Rio de Janeiro. No saguão de entrada o personagem Ross (Daniel Carvalho Faria) um showman, perguntava ao público se estavam com medo. Chegou minha vez e eu disse que não, pois não estava mesmo, estava excitado para ver o que os brilhantes Cibele Forjaz e Wagner Antônio, tinham feito com o “meu” clássico.
Todo o clima criado desde a entrada nos remetia a um verdadeiro freak show, tão comuns na época em que Merrick teria vivido. Eu estava aflito para vê-lo em cena, na pele de Vandré Silveira.
O teatro é dividido em dois palcos, onde a plateia fica no meio, entre o cenário do hospital e do show de horrores. Ross (Daniel) cativa, seduz, instiga o público ao extremo, até nos apresentar sua ilustre atração grotesca, o Homem Elefante. Era ele, Merrick/Silveira, nu atrás de uma cortina fina. A expressão corporal nos apresentava um homem deformado, uma “aberração” que todos estavam ali para ver. Apagam-se as luzes e entra em cena Frederick Treves (Davi de Carvalho), o médico que iria estudar o caso de Merrick, que agora sim, apareceria com suas "deformidades". Infelizmente em uma maquiagem nada convincente, mas dado o desconto da “licença poética”, tentei guardar a primeira impressão dele por trás da cortina, sem “maquiagem”, mas brilhantemente convincente. Acho que por ter perdido o foco, acabei deixando me incomodar até mesmo com as tatuagens do ator, que não condiziam ao personagem, mas tentei me convencer e mais uma vez dar crédito à “licença poética” para não perder a história.
A entrega de Vandré Silveira ao personagem é tanta que ao final do espetáculo, o ator está exausto e com a certeza de mais uma (perfeita) atuação cumprida. Em seu corpo coberto de “lama” já esqueci tudo aquilo que a maquiagem uma hora me incomodou e aplaudo de pé, não só sua atuação, mas de todo elenco da Cia Aberta.
SOBRE A COMPANHIA
Os atores mineiros Daniel Carvalho Faria, Davi de Carvalho e Vandré Silveira fundaram no Rio de Janeiro, onde residem, a Cia Aberta, em 2011. Quando escolheram montar o texto de Bernard Pomerance, convidaram Cibele Forjaz para conduzir a encenação. Convite aceito, mas com uma condição: teriam que se mudar para São Paulo. Não hesitaram e durante um ano fizeram a imersão na cidade, através de workshops para a construção da encenação. Wagner Antônio juntou-se ao grupo para dividir a direção com Cibele e conduzir a Luz do espetáculo. A Cia Aberta tem em sua trajetória uma investigação criativa por meio de parcerias artísticas, novas dramaturgias e diversas linguagens de encenação e atuação. O desejo de estabelecer uma parceria criativa com a diretora Cibele Forjaz na concepção do espetáculo “O Homem Elefante”, vem de uma identificação com seus métodos de pesquisa e direção (pouco ortodoxos e nada cartesianos), a partir de conceitos como a dramaturgia do espaço, o épicodramático-ritual e o pensamento do aqui e agora no teatro.
SERVIÇO
"O Homem Elefante"
Quando: De 11 a 21 de dezembro / de 2 de janeiro a 8 de fevereiro.
Sessões: Quinta a Domingo, às 20h
Onde: Oi Futuro - Rua Dois de Dezembro, 63, Flamengo
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Vendas: na bilheteria (De terça a sexta, das 14h às 20h; sábados, domingos e feriados, das 14h às 20h) e no www.ingressorapido.com.br
Classificação: 16 anos
Capacidade: 40 lugares
Duração: 2 horas
Gênero: Drama
Mais informações: (21) 3131 3060
FICHA TÉCNICA
Texto: Bernard Pomerance
Idealização: Cia Aberta
Encenação: Cibele Forjaz e Wagner Antônio
Assistente de direção: Artur Abe
Elenco: Daniel Carvalho Faria, Davi de Carvalho, Regina França e Vandré Silveira
Iluminação: Wagner Antônio
Cenário: Aurora dos Campos
Figurino: Valentina Soares
Direção musical e trilha sonora: Dr Morris
Identidade Visual: Balão de Ensaio
Ilustração: Antonio Sodré Schreiber
Fotografia: Vitor Vieira
Direção de produção: Paulo Mattos
Produção executiva RJ: Tamires Nascimento
Operação de luz: Lívia Ataíde
Operação de som: Dominique Arantes
Direção de Palco: Wallace Lima
Fotos: Eduardo Moraes e Vitor Vieira (Divulgação)