Você duvida? Oh! Leitor de pouca fé, então vá ver e depois me conte se a energia liberada e compartilhada nessa peça não te acompanha por horas e sabe-se lá quantos dias. É um festival de bom humor, de piadas, situações, diálogos e interações completamente divertidas, onde o que reina é a total descontração e nenhuma regra. Por sinal o que mais parece nessa peça, é que ninguém segue regra alguma e simplesmente seguem um instinto animal e libertino, que é o de levar diversão às centenas de espectadores presentes.
CURTA O EM NEON NO FACEBOOK
Mas vamos deixar de lado isso tudo, vou começar a falar realmente do que interessa. A peça, Dzi Croquete, é simplesmente um sucesso de quatro décadas e talvez 5 ou 6 gerações, pois da forma com que o mundo evolui e progride, as gerações não trocam mais a cada 10 anos, e sim a cada 5 ou 6. Sem o emprego de altas tecnologias, efeitos especiais, projeções ou apelações, Dzi conquista e prende seu espectador com as coisas mais primárias que o ser humano possui: seu próprio corpo, seu sentimento, carisma e entusiasmo. Entusiasmo esse, que é altamente perceptível em todos do elenco, a todo momento, conquistando a cada nova coreografia e cada nova frase, um rubor jovial e um desapego a tudo que é hipócrita, habitual ou mesmo moral.
Para se entender Croquetes, é preciso primeiramente se entender, se despir, se libertar de tabus ou preconceitos, abrir a própria mente, deixar que novas ideias e concepções possam invadir, ou melhor, arrombar nossas teorias do que se é permitido e o que se é censurado.
Quem vai querendo entender algo, ou buscando uma moral e até quem sabe uma estrutura comum teatral, na certa voltará frustrado, mas quem vai de alma limpa e peito aberto, volta com sensações, ritmos e até mesmo uma nova diretriz intelectual, onde o que importa é o como é feito e para que é feito e não somente como e porque.
Esse musical é a coisa mais simples, estruturalmente falando, mas é totalmente difícil e complicado, emotivamente explicando. Como eu escrevi antes, primeiramente simples e fácil, pois o cenário é feito de estruturas metálicas, acabamentos rústicos e modestos, que com toda uma eficaz concepção artística e profissional de Pedro Valério (responsável por todo o ambiente cenográfico) nos faz parecer que estamos na época da ditadura, onde o colorido e o brilhante se contrapunham com o regime político e faziam conjunto, com penas, plumas, purpurinas e paetês.
Já a parte difícil desse espetáculo, se dá pela unidade assumida no palco, onde homens com corpos apolíneos, com definições musculares, que nem mesmo Da vinci se arriscaria traçar, assumem
uma postura dionisíaca e como se estivessem em um frenesi, despem-se de seus trajes e ficam
perambulando, em vários momentos da peça, apenas de tapa sexo. Isso se fosse em um espetáculo qualquer assumiria um tom vulgar, distrairia a plateia da história e até constrangeria seus atores mais desatentos, mas não é o que acontece e com os figurinos de Claudio Tovar tudo toma proporções "Broadwayanas" com tamanho luxo, bom gosto e acabamentos.
Ciro Barcelos, com toda sua trajetória, conhecimento e aproveitamento do corpo e espaço, deu uma leveza e até mesmo uma infantilidade a toda nudez apresentada, que esquecemos de nossa
volúpia e passamos a olhar como arte, como apenas mais um instrumento ou um mero objeto cenográfico. Passamos a encarar com naturalidade e lembramos que a nudez se faz presente a todo momento em nossa vida e que olhar para ela com uma tonalidade pudica é o mesmo que nos sentenciarmos a um ostracismo mental e enfadonho.
Todo o elenco interage entre si, se tocam, se percebem e se apoiam, não há rivalidades ou
mesmo exacerbações egocêntricas por parte de um ou outro, o que se percebe é que todos se divertem e se ajudam, transformando toda a apresentação num circo onde eles, além de artistas, também são parte do público, uma engrenagem bem lubrificada e sincronizada. Os novatos Lucas Lima e Bruno Gissoni, que estreiam na trupe, parecem ser da antiga formação de tão livres e a vontade que se sentem ao moverem-se no palco.
A peça também tem momentos sérios, no qual são narradas as torturas, agressões e censuras que todos os artistas da época da ditadura sofreram com seus trabalhos artísticos e, principalmente, os 13 atores do Dzi da época. A emoção toma conta do espetáculo e é impossível não aplaudir toda essa apresentação.
Uma coisa que é preciso destacar e definir como um ponto forte da peça, é que tudo acontece na hora "just in time", quando o assunto é sonoplastia e sonorização. A direção musical do espetáculo é feita em cima do palco em uma cabine aberta para o excelente Demétrio Gil trabalhar e atuar. Ele se divide em vários na peça, até Chacrinha ele interpreta, provando que um profissional completo ultrapassa o tempo e gerações, quando se tem foco e responsabilidade.
As interpretações são bem definidas por cada um no palco, todos tem seu momento solo e em momentos da peça, encanto e magia afloram. Tem de tudo, sapateado, can can, flamenco, Carmem Miranda, sensualidade, erotismo, homenagens... é difícil destacar um ou outro ator, pois todos se comportam como uma equipe uníssona e acabam se transformando em um. "Um por todos e todos pela arte!"
Não poderia deixar de citar aqui a carinhosa recepção que parte do elenco e da produção, com quem tive contato previamente, tiveram comigo. Um beijo carinhoso nos corações de Leandro Melo (que também atua em Elis - A musical), Franco Kuster (atualmente em cartaz com Constellation), Thadeu Torres, Demétrio Gil, Pedro Valério e por fim, e não menos importante, o produtor Ronaldo Tasso.
Conversei com alguns atores do elenco, que me falaram como é trabalhar nesse espetáculo, que é sucesso há 40 anos:
(Leandro melo)
"Pra mim é uma honra poder participar do Dzi e ter a chance de colocar no palco a irreverência desse grupo tão singular e importante para a contracultura do nosso país. Dzi Croquettes foi, é, e sempre será um marco na história do teatro brasileiro."
(Thadeu Torres)
"É uma honra estar no palco com o Dzi e poder homenagear esse grupo!! Dzi croquettes sem dúvida é um trabalho de guerreiros e sou muito grato por fazer parte desse exército ."
(Franco Kuster)
"Fazer parte do grupo é uma honra e um grande desafio como ator, o trabalho de desconstrução é constante e nos empolga diariamente."
(Ricardo Burgos)
"Então, o Ciro me viu fazer uma aula de jazz Broadway do Kiko Guarabyra e me convidou, eu tinha apenas a noção do que era o Dzi, pois era um dos assuntos da prova do sindicato da dança há 6 meses atrás. Eu tive um apoio muito grande com o canto e o teatro nos ensaios e aconteceu tão rápido que pela manhã, quando a cabeça ainda divaga, vou lembrando de tudo e tomando uma surra de surpresas, que estou em um dos maiores palcos, cantando, atuando, dançando com pessoas incríveis, aprendendo muito com os originais, e com esse musical que faz parte da História do Brasil"
(Lukas Lima)
FICHA TÉCNICA
Concepção, texto e direção geral: Ciro Barcelos
Direção musical: Demétrio Gil
Trilha sonora: Demétrio Gil e Flaviola
Coreografia: Ciro Barcelos e Lennie Dale
Figurinos e adereços: Cláudio Tovar
Iluminação: Aurélio de Simoni
Cenografia: Pedro Valério
Direção de produção: Ronaldo Tasso
Realização: Rtasso ideias e realizações e CBX produções
SERVIÇO
Dzi croquettes
Dias: 02, 03, 09 e 10 de fev
seg e ter 21h
únicas apresentações
Sala Tereza Rachel
Ingressos: Plateia e frisas: R$ 100,00| balcão: R$ 80,00
Theatro Net Rio - Rua Siqueira Campos 143, Copacabana - Rio de Janeiro - RJ
Fone: 21 2547-8060
Fotos: Facebook do Dzi Croquetes
João é ator, cantor, mas descobriu-se crítico e aí sim viu que suas opiniões poderiam ajudar muitas pessoas a se decidirem e se descobrirem diante de assuntos dos quais ignoravam, desconheciam ou não davam importância. Participou ativamente de projetos de cinema e teatro, fez um blog de filmes temáticos LGBT. Em breve irá lançar um livro sobre como explorar bem Enredos Carnavalescos.