"Picture yourself in a boat on a river / With tangerine trees and marmalade skies / Imagine você mesmo em um barco em um rio / Com árvores de tangerina e céus de marmelada"
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Com uma iluminação azul e amarela na maior parte do tempo, com canhões certeiros, bem direcionados, marcados e momentos de semi penumbra, o iluminador Paulo César Medeiros conseguiu criar uma atmosfera bem peculiar e que desenha um sentimento cênico no decorrer da trama, que envolve tanto o elenco, quanto o público em sua poltrona. E o figurino de Carol Lobato então nos faz esquecer completamente que estamos em 2015: Calças justas e bocas de sino, batas, camisas abertas no peito e isso sem falar no acabamento de detalhes dos sapatos e acessórios, aliando isso tudo com os penteados, maquiagens e cortes de cabelos, que transportam mentalmente todo o teatro a décadas atrás.
O cenário constituído por um muro de fundo, que até então não diz nada. Seria um muro que dividiria o nosso mundo do "Céu de Diamantes"? Bem, isso vai da imaginação de cada um e a concepção desejada pelo cenógrafo Moeller. Quanto aos objetos cenográficos, apenas algumas malas e uns guarda-chuvas, que em alguns momentos desenham e marcam coreografias bem feitas e dirigidas, aliás, em todo o decorrer do espetáculo, as coreografias nos fazem entender completamente toda a trama desejada, a sincronicidade, as marcações e principalmente o aproveitamento do espaço. Isso tudo é observado por muitos da plateia. Tudo é utilizado brilhantemente.
Um detalhe surpreendente nessa produção é a ausência de diálogos, e há somente um momento em que uma frase é dita em português, pois todo o espetáculo é composto de músicas famosas e marcantes dos Beatles, em sua língua original, mas com interpretações mais dramáticas, vivas e atuais. Embora esse musical seja antigo e com várias formações e alterações, a essência é a mesma, mudaram algumas músicas, mas a estrutura cênica é imutável e a compreensão de nada fica diminuída se a pessoa não souber inglês, pois tudo é planejado para que a compreensão seja imediata.
Por ser uma produção da dupla CM&CB, lógico que já se prevê um resultado final de primeira linha, porém, o surpreendente é que o espetáculo não agrada pelos seus atrativos de efeitos e grandiosidade (que não possui) e sim, pela única e poderosa atração: as vozes. E os cantores não ficam gritando para mostrar que sabem cantar, eles acalantam nossa audição com vozes suaves, prazerosas e oníricas. Onde a preocupação é valorizar as músicas, a história e principalmente o desfile harmônico e não se exibir e ostentar talento. Poucas vezes eu vejo artistas que fazem a arte pela arte e não pela fama.
O repertório conta com músicas como: "Yesterday", "Let it Be", "Help", "Hey Jude", "Yellow Submarine" (engraçadíssima por sinal), "Ticket to Ride", mesclando sempre, músicas românticas, agitadas, engraçadas e surreais. Quem é fã de Beatles, com certeza irá se emocionar e ficar orgulhoso pelo respeito que o musical teve com a obra do grupo. Quem não é fã, mas conhece um pouco do quarteto, com certeza já sairá dali correndo para entrar em um Fã Clube. O que se ouve, agrada, uma coisa é certa, a pessoa pode até não conhecer a obra completa, mas que todas as músicas, uma vez ou outra, já foram ouvidas isso é óbvio, se você tem mais de 18 anos, se tiver menos, pelo menos a metade delas.
A peça tem um aproveitamento extra de dois de seus atores em outros talentos, o jovem Jonas Hammar tem uma força na percussão, que deixaria qualquer percussionista de uma escola de samba de queixo caído. Ele é firme, rítmico e potente. Faz com que fiquemos preocupados com suas mãos, pensando se ele pode se machucar ali e talvez comprometer sua participação na peça. Mas isso não acontece. Ele faz brincando, ele canta, dança, e toca como ninguém, um "ogan" para terreiro nenhum botar defeito. Lui Coimbra é outro que também possui duas funções, além de cantar em algumas músicas e até se arriscar em umas coreografias, ele também é o responsável pelo agradável som de cordas do violoncelo.
Os maravilhosos momentos interpretados diretamente ao público são inesquecíveis. Em momentos que alguns fazem solo no meio da plateia e também quando eles se sentam na beira do palco e começam a cantar para nós, como se estivéssemos em um delicioso luau ou fizéssemos parte do musical. Com isso eles conseguem arrancar não só suspiros e lágrimas de todos, mas conseguem fazer com que todos cantem juntos, batam palmas e acompanhem esses talentos da emoção.
Por tudo isso e muito mais, você não pode perder esse maravilhoso espetáculo musical e toda vez que você estiver em sua casa e a "musiquinha" da novela tocar, você nem vai se lembrar de Maria Marta Medeiros e sim que você teve o prazer de desfrutar de uma excelente produção brasileira com enormes talentos.
Ficha Técnica
Gênero: Musical
Diretor: Charles Möeller & Claudio Botelho
Elenco: Malu Rodrigues, Marya Bravo, Kacau Gomes, Estrela Blanco, Jules Vandystadt,
Pedro Sol, Rodrigo Cirne, Sergio Dalcin, Tony Lucchesi, Lui Coimbra, Jonas Hammar
Figurino: Carol Lobato
Cenário: Charles Moeller
Iluminação: Paulo César Medeiros
Sound Designer: Marcelo Claret
Produção Executiva: Edson Lopes
Direção Artística: Tina Salles
Serviço
Teatro do Leblon — Sala Marília Pêra (462 lugares)
Rua Conde Bernadotte, 26, Leblon, Tel: 2529-7700
Quinta a sábado, 21h; domingo, 20h. R$ 80,00 a R$ 100,00
Até 1º de março de 2015
Fotos: Facebook do espetáculo (Divulgação) / Reprodução/Site MoellerBotelho
Por: João Loureiro Filho - CLIQUE AQUI e leia mais artigos de João Loureiro Filho
João é ator, cantor, mas descobriu-se crítico e aí sim viu que suas opiniões poderiam ajudar muitas pessoas a se decidirem e se descobrirem diante de assuntos dos quais ignoravam, desconheciam ou não davam importância. Participou ativamente de projetos de cinema e teatro, fez um blog de filmes temáticos LGBT. Em breve irá lançar um livro sobre como explorar bem Enredos Carnavalescos.