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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Mudança de Hábito: Do que precisamos para viver afinal?

Em Neon: quinta-feira, 29 de janeiro de 2015


O fim do ano passou. O consumo acelerado, as necessidades aumentadas e as frustrações por muitas limitações de consumo foram atualizadas...

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As contas se acumulam e a já folclórica dureza financeira do início de ano se instalou numa grande quantidade de lares e bolsos; talvez, seja uma boa época para repensar no que, de fato, precisamos para alegrar nossas almas errantes na busca inconstante de satisfação e alegria. Impossível (deveria ser...) que alguma falta seriamente considerada por necessidades humanas verdadeiras, fosse supridas por grifes, supérfluos ou desejos de consumo criados midiaticamente pelo capitalismo – Cria-se a necessidade para vender o desejo, a doença para vender a saúde, a falta para o consumo da abundância...

De quantas calças jeans precisamos? Quantas camisetas? Quantas Gigas devem ter nosso aparelho de conexão virtual? De que tamanho é a nossa fome e deveria ser nossa saciedade? Como diria a frase já meio antiga de uma música “Você tem fome de que?”

Tenho visto algumas pessoas determinarem o caminho oposto a essa gigantesca necessidade – Elas têm doado excessos, se limitam a uma televisão (quando muito), compram apenas o que irão consumir, caminham ao invés de andarem de carro ou metrô, reutilizam embalagens, reciclam lixo, plantam seus temperos... São mais simples e ao mesmo tempo mais evoluídos que a maioria de nós...

Estou convencida que às vezes a liberdade deve transitar na contra mão. Quantas vezes menos é mais? Na verdade, cada vez mais ando pensando que o que precisamos é luxo mesmo – Daqueles tão caros que dinheiro nenhum pode comprar – Paz de espírito, amigos verdadeiros, gargalhadas baratas, sonos reparadores, dinheiro (ainda que pouco) ganho na honra de executar um bom trabalho e suficiente para a viabilidade de uma vida simples, mas alegre, sopa quente na hora da gripe, abraços verdadeiros, amor confiável... Mais luxo que isso me parece uma exorbitância de nosso pueril mito, no qual uma vida boa de viver seja necessariamente dependente de poder aquisitivo capital.

Para não correr o risco de ser simplista, reconheço que o dinheiro compra coisas cuja sedução e encantamento surte imediato efeito... No entanto, tenho visto uma quantidade enorme de pessoas com muito dinheiro e entediadas com qualquer coisa que ele possa comprar. Não se trata de afirmar o jargão “dinheiro não compra felicidade”, mas o fato é que não compra mesmo. Pode comprar prazer e bem estar, mas não pode comprar um sentimento que depende apenas e tão somente de afeto. Além disso, convém lembrar que felicidade, como um estado permanente, não existe, para ninguém...

Não falo aqui do conformismo em relação ao que se pode melhorar, muito menos das condições injustas da desigualdade social – Essas devem ser combatidas em nome da evolução de nossa tão complexa e equivocada raça. Falo de tristezas inventadas pela massificação dos desejos...

Nesse primeiro escrito do ano, desejo que cada um de nós seja descaradamente rico e próspero naquilo que é mais sagrado e que dinheiro nenhum jamais haverá de comprar – O luxo de existir na alteridade, no afeto e convicção plena de que viver vale a pena, mas apenas e tão somente se for na abundância do verdadeiro amparo mútuo, do abraço que dissolve a solidão, no sorriso que ilumina um dia nublado – Que nenhum sistema consumista possa dizer do que precisamos para sermos felizes... Abraços carinhosos e fartos a todos!!!

Fotos: Reprodução e Louise Mensch

Por: Ana Kiyan - CLIQUE AQUI e leia mais artigos de Ana Kiyan

Ana Kiyan é pedagoga, psicóloga, Gestalt-terapeuta, Mestre em Psicologia Clínica e Doutora em Psicologia Social pela PUC/SP. Docente na Pós-Graduação da USJT/SP e UNESP e Supervisora do Projeto de extensão Artinclusiva da UNESP. Autora de livros em psicologia, Gestart-terapia e novas condições de gênero e sexualidade.

 
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