Todos os oprimidos têm um dia de luta: 8 de março, Dia da Mulher; 19 de abril, Dia do Índio; 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Faz sentido existir também um Dia dos Homossexuais? Sim! Os gays também têm seu dia – 28 de Junho.
Os gays, lésbicas, travestis e transexuais representam mais de 10% da população mundial. No Brasil, são mais de 20 milhões de seres humanos desprezados, discriminados, violentados, assassinados. Só nos últimos 30 anos mais de 3500 homossexuais foram barbaramente executados, vítimas da homofobia – a intolerância à homossexualidade. A cada novo dia um LGBT é assassinado no Brasil! Por que tanto desprezo e violência? Simplesmente porque os homossexuais são considerados marginais, doentes, pecadores, e nossa sociedade cristã legitima o terror contra os gays, lésbicas e transgêneros.
As causas da homofobia já foram detectadas pelos cientistas sociais: de um lado, a mentalidade machista que confere apenas ao “sexo forte” a hegemonia social, relegando para a condição de subumanos quem não é macho: as mulheres, tornadas “sexo frágil”, e o “terceiro sexo”, os gays. Do outro lado, explica-se a homofobia pela reconhecida insegurança dos machões – face ao estilo de vida revolucionário dos gays – que veem nos homossexuais perigosa ameaça a sua hegemonia, posto abdicarem do privilégio de dominar as fêmeas em função de viverem uma relação igualitária com outros machos.
A moderna psicanálise ensina que todos aqueles que odeiam e querem a destruição dos homossexuais, no fundo, têm mal resolvida sua própria (homo)sexualidade, vingando-se nos homossexuais egossintônicos seus desejos homoeróticos reprimidos.
Confronto entre a polícia de Nova York e os LGBT do Stonewall Inn e ruas próximas |
Os gays lutaram duro para ter um dia no ano. Tudo começou em 28 de junho l969, em Nova York, quando os homossexuais, cansados de apanhar da polícia, que toda noite invadia seus espaços de lazer reagiram e ganharam a batalha contra a prepotência policial. Nos anos seguintes, os LGBT do mundo inteiro adotaram 28 de junho como o “Dia do Orgulho Gay”, também chamado de Dia da Consciência Homossexual, hoje Dia do Orgulho LGBT.
Nas principais cidades do mundo, os gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e simpatizantes enchem as ruas proclamando: é legal ser homossexual! Em S. Francisco, Nova York, nas principais cidades do Canadá e da Europa, autoridades e políticos se juntam a milhões de homossexuais que saem às ruas para defender seus direitos de cidadania.
No Brasil, desde 1981, o Grupo Gay da Bahia comemora esta data e, nos últimos anos, as paradas LGBT se espalharam pelo resto do país. Mais de um milhão de pessoas participam todos os anos das paradas de SP, RJ, Salvador, Fortaleza e Belém.
Por que não ter vergonha de ser e defender o homossexual?
Foram necessários muitos anos de resistência, luta e contestação para que chegasse um dia, na década de 60, em que os negros pudessem declarar: “negro é bonito!”. Serão necessárias ainda quantas gerações para que todas as pessoas reconheçam que mulheres e homossexuais devem ter os mesmos direitos que os machões; que a cor escura da pele do índio ou do negro não implica em inferioridade?
Não existe raça superior, não existe sexo superior, não existe sexualidade/gênero superior. Sexo é prazer, comunicação, vida. A livre orientação sexual é um direito inalienável de todo ser humano, seja homossexual, bissexual, heterossexual ou transexual.
Ser homossexual não é doença: desde l985, o Conselho Federal de Medicina, desde 1993, a Organização Mundial da Saúde e, desde 1999, o Conselho Federal de Psicologia excluíram a homossexualidade da classificação de doenças. Ser homossexual não é crime e teólogos modernos defendem que o amor entre pessoas do mesmo sexo não é pecado. A discriminação sim é proibida pela Constituição.
O que querem os LGBT?
O povo LGBT quer simplesmente ser tratado como ser humano, com os mesmos direitos e deveres dos demais cidadãos. Queremos cidadania plena! Os gays não desejam mudar a orientação sexual de ninguém, mas também não aceitam que queiram “curá-los” ou “convertê-los” – do mesmo modo como os negros e índios lutam para que sejam respeitados na sua especificidade pluricultural.
Que chegue logo o dia em que não mais seja necessário que os negros, índios, homossexuais e mulheres tenham apenas um dia especial no ano para denunciar o preconceito e discriminação de que são vítimas. Que nos unamos contra o preconceito e a ignorância para que seja logo realidade o que nossa Constituição Cidadã prognosticou em seu Artigo 3º, incisos I e IV: “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:”… “construir uma sociedade livre, justa e solidária”, promovendo “o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Equiparação da homofobia ao crime de racismo e casamento igualitário já! Direitos iguais, nem menos, nem mais!
Grupo Gay da Bahia (GGB)
Luiz Mott/ Marcelo Cerqueira