Há alguns dias, sai sozinho e ansioso para ver “Praia do Futuro” do Karim Aïnouz. O filme aborda o estranhamento de se viver num país que não é o seu, sentimento experimentado pelo salva-vidas Donato que, após fracassado resgate na Praia do Futuro, se deixa levar por uma relação sexual com o alemão Konrad e vai viver com ele em Berlim, deixando para trás seu irmão pequeno Ayrton, que o admira como herói. Anos depois, o irmão crescido se aventura indo até lá para um acerto de contas.
O filme não me comoveu, as personagens não me ganharam, não me fizeram gostar mais ou menos delas. Em quase duas horas, a estória se arrasta com poucos diálogos. Claro que não se pode exigir dos nossos atores brasileiros uma rapidez e fluência no idioma alemão. Paira uma melancolia em locações condizentes com a trilha sonora de Volker Bertelmann, cenas de sexo beirando o agressivo e nudez desnecessária.
Apesar do que citei, o filme tem belas tomadas. Gostei muito da que se passa num aquário gigante. Wagner Moura mais contido e, pelo tempo que está afastado da TV, sem os vícios que tal veículo impõe. Achei bom. Não posso dizer o mesmo do ator Clemens Schick. Minha atenção é despertada lá pelo final, quando surge o extraordinário Jesuíta Barbosa. Ali o filme dá uma crescida. Porém, nessa altura do campeonato, eu já estava torcendo para acabar. Finalmente acabou. Agora temos um brasileiro se igualando a um desses em mostras de filmes gays insossos.
Para compensar a desilusão com Praia do Futuro, tive o prazer de assistir ao “Histórias Íntimas” com direção dos brilhantes Julio Lellis e Breno Pessurno, roteiro e montagem de Andre Damin baseado no best-seller de Mary Del Priore, exibido no Centro Cultural Justiça Federal no Rio de Janeiro.
Com duração de duas horas, Mary Del Priore nos conta, de forma bem humorada, as mudanças no comportamento sexual do brasileiro, da chegada dos colonizadores por aqui, até os dias de hoje, ilustradas pelas interpretações, muitas vezes debochadas, hilárias de atores como Gonçalo Ladeira Dias, Cássio Pandolfi, Cristina Prochaska, Nadia Lippi, Sonia Clara Ghivelder, Mitzi Evelyn, Léa Garcia e tantos outros, intercalando-se aos preciosos depoimentos de Jean Wyllys, Lucinha Araujo, Nélida Piñon, Titi Muller, Marília Pera e Ivan Lins.
Divertido e esclarecedor, apresentando questões polêmicas como o papel da mulher na sociedade, o racismo e a homossexualidade, é um filme para se ver muitas vezes.
Como resultado, ganhou o prêmio de Melhor Filme no festival “O Cubo”.
Outro que recomendo e que ainda está em cartaz é o “Hoje eu quero voltar sozinho”, dirigido e roteirizado pelo ótimo Daniel Ribeiro com produção da Lacuna Filmes.
Estrelado, na sua maioria, por jovens, foi ganhador do Prêmio Fipresci, concedido pela Federação Internacional de Críticos de Cinema, e é baseado num curta feito pelo mesmo diretor, quatro anos antes. O longa-metragem é uma delícia de se ver e fala muito mais da descoberta do amor do que, propriamente, da sexualidade.
Léo, um adolescente cego, se apaixona por Gabriel, seu colega de classe, recém-chegado do interior, despertando o ciúme da amiga Gi. Filme leve, delicado, sensível, divertido, bonito, com atuações excelentes dos jovens atores Guilherme Lobo, Fábio Audi e Tess Amorim, e com participação de outros mais experientes na arte de interpretar, como a admirável Selma Egrey. Assim como “Histórias Íntimas”, é filme para se voltar sozinho ou acompanhado ao cinema muitas vezes.
Por: Beto Caratori